artigo publicado na revista O Setor Elétrico
Antigamente, a rotina de um profissional ao visitar seu cliente era assim: ele abria a agenda ou a lista telefônica, ligava para alguns nomes conhecidos, marcava dia e horário com certa antecedência, geralmente na agenda, fazia algumas anotações, separava folhetos, catálogos, e dependendo do produto, levava uma amostra consigo. Colocava tudo numa pasta de couro, pegava um ônibus e era recebido no horário combinado. Apresentava o material impresso, enquanto explicava detalhes sobre a empresa e o produto em questão. Nem sempre havia telefone na sala de reuniões, portanto, a conversa só era interrompida se houvesse algum assunto muito importante, através de uma secretária. Ambos trocavam cartões de visita, e os contatos posteriores se davam através de telefone, novas visitas e mais tarde pelo fax. As pessoas se conheciam, cumprimentavam-se na rua, almoçavam no mesmo horário e andavam muito à pé e de ônibus. O dinheiro era suado, mas dava para pagar as contas e ter o necessário, a vida era mais tranquila. Trabalhar de carro era um luxo, carro do ano então, só gerentes, diretores e donos de empresa tinham.
Atualmente, eis a rotina de um profissional ao visitar um cliente: ele liga o computador e seleciona através de um mailing list vários nomes de empresas e profissionais que não conhece, dispara e-mails, depois telefona tentando marcar uma visita para o dia seguinte. Grava o número do celular, o telefone comercial, o endereço, e-mail, skype, e o MSN do cliente no seu próprio celular e no notebook. Entra na internet, procura o endereço no Google Maps, analisa rapidamente o trajeto, imprime o mapa para garantir, mas também consulta as notícias sobre o trânsito e sobre o tempo, para decidir qual a melhor rota. Feito isso, coloca todos os aparatos eletrônicos numa mochila própria para disfarçar e proteger o equipamento, digita o endereço no GPS. Entra no carro, liga o aparelho no carregador, conecta o fone de ouvido no celular, fecha os vidros, liga o ar condicionado e reza para a cidade não alagar. Aproveita o trânsito para fazer algumas ligações e resolver problemas particulares, assim economiza tempo. Atende as ligações e agenda outras visitas, tentando encaixar os clientes da mesma região no mesmo dia. Faz malabarismos na direção, vai ouvindo as notícias do trânsito e procura rotas alternativas para chegar mais rápido. Envia alguns torpedos para os amigos. Se o trânsito estiver bom, ouve umas músicas que selecionou e gravou no pen drive. Geralmente, chega uma meia-hora atrasado, o que é pouco, considerando os inúmeros imprevistos possíveis. Estacionar o carro é um problema à parte... Bem, finalmente com o cliente, conversam em uma mesa de reuniões, trocam cartões, abre-se o notebook, e a apresentação da empresa e dos produtos/serviços é em Power Point ou vídeo. Navegam na internet, fazem pausas para atender o celular, enviar ou receber e-mails, torpedos, fotos, músicas, ver o filho no Messenger, pagar alguma conta esquecida na internet e, bem... a partir daí, as possibilidades são infinitas. Pode-se até encomendar o almoço online. E almoçar no carro a caminho de outro compromisso. Sem rotina, sem horário, se der tempo. O que for mais fácil e rápido. Contatos posteriores com o cliente agora são por e-mail chat, skype, MSN ou telefone. O próprio cliente acessa o site do fornecedor e através de códigos e senhas tem acesso a preços, prazos, faz a compra e acompanha o processo online. Bateu até um cansaço ao ler este parágrafo? Pois é, assim é o nosso dia - cheio demais, sem pausas, emendando compromissos e atividades.
Hoje, quanto mais se ganha, mais se gasta, mais se quer. Compramos até o que não podemos. Temos tudo o que é novidade, até carro zero, parcelado em 48 vezes. Aí precisamos trabalhar mais. A vida é corrida, conturbada. Tudo é digital, dos documentos às fotos, da TV às músicas favoritas, até as nossas digitais nos arquivos da receita federal. Ironicamente, a realidade é virtual. Estamos conectados e acessíveis o tempo todo. Queremos atender e ser atendidos imediatamente, sem restrição de horário e lugar. Tudo pode ser resolvido com apenas alguns cliques. O estado de alerta é constante e os momentos de sossego cada vez mais raros. Os dias são longos e as férias curtas. E a vida passa. Rápido como um clique.
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